O fim da amizade - e o coleguismo?

Finalmente chegou o final da temporada de "Jogo da Velha". Fizemos mais 4 apresentações, que agora somam 12. Resta saber se a peça ainda terá vida. Bom, eu anunciei como fim forever. Pode ser que algum dia volte. Sei lá, eu fico ansioso com o futuro, mas prefiro deixar as coisas acontecerem...

Um pouco da minha frustração com a peça é o tal lance da amizade. Montar um lance profissional dentro de um grupo de amigos é algo assustador quando o pessoal e o profissional se misturam. Todos sabem que o Fabrício amigo é muito diferente do Fabrício profissional. A mãe de um amigo meu disse certa vez que deveria ser muito divertido trabalhar comigo. Até concordo, mas se alguém acha que vai fazer um trabalho comigo e vai ser tudo festa, pode esquecer. Sou absurdamente chato com meu trabalho. E nem todos estão preparados para me encarar pela frente. (Patadas? Sim, eu dou)

Por conta disto, algumas amizades já subiram no telhado e outras estão subindo. E, para minha própria surpresa, isto vem me perturbando. Pensei que já tivesse superado esse sentimentalismo barato. Aproveito o gancho e comento o que Angélica deixou na página de comentários do meu post retrasado.

Angélica foi uma das pessoas a quem já chamei de "braço direito". Os meus "braços" sempre foram as pessoas que estiveram perto de mim em determinado ponto da minha história. Ela foi muito importante durante meu segundo grau, entre 1998 e 2000. Lá se vão mais de 10 anos! Repassar a minha história no Colégio Militar, onde estudamos, é repassar a história dela também. Onde um estava, o outro estava.

Quando saímos do colégio, tomamos o caminho natural de amigos de colégio: carregar a amizade para fora daqueles muros. Só que aí é que uma pessoa pode se mostrar à outra. Tínhamos em 2000, 16 anos. Em 2002, completamos 18 e, a partir dali, teríamos nossa almejada liberdade para viver. E com mais liberdade, os gostos e caminhos ou se aproximam ou se repelem. Em nosso caso, fomos cada um para um lado. Um mundo de possibilidades abriu-se diante de mim. E à frente dela, outro mundo se abriu. O meu mundo não era o dela.

E a falta de maturidade e arrogância jovem trazem o maior dos equívocos: o julgamento. Um julga o caminho que o outro toma e o respeito vai pelo ralo. E é claro que toda aquela amizade, diante de uma situação dessas, acaba em frustração e briga. No nosso caso, nem houve briga, houve frustração. As pessoas que nos tornamos não agradavam o outro. É nessas horas que o tal equívoco que eu falei precisa ser transformado em respeito. É enxergar que forçar uma amizade não leva a nada. Com isto, perdemos... ou pelo menos, eu perdi, a oportunidade de ver, mesmo de longe, aonde o caminho dela a levava.

O chato é constatar que o fato dela não é isolado. Outra pessoa mais próxima de nós teve uma amizade comigo até uns 2 anos atrás. Foi quando, em comum acordo, percebemos que não adiantava mais insistir. Não tínhamos mais respeito um pelo outro. O chato foi ver que a minha presença incomodou a pessoa, em recente aniversário em que nos encontramos... Eu fui lá, cumprimentei, perguntei se estava tudo bem e... morreu ali na frieza da resposta. Uma pena. É uma pessoa que não tenho mais vontade de conviver, mas quando a gente se encontra, por que não trocar uma ideia? Acabam-se as amizades, mas e o coleguismo?

Fui mais feliz com um colega da época do ginásio. Éramos unha e carne. Mudamos de escola no mesmo ano e fomos perdendo a amizade. Alguns anos atrás, nos reencontramos. Foi muito legal nos revermos depois de tanto tempo. Foi interessante constatar que tínhamos muito respeito pelo que vivemos naquela época. Saímos mais algumas vezes e... nos afastamos. Não temos mais amizade, foi de fácil constatação. Para quê forçar? Entretanto, nos esbarramos dia desses na rua e foi novamente uma festa. Conversamos alguns minutos, atualizamos um ao outro de fatos importantes e cada um foi para o seu lado. Como disse, acabou a amizade, mas conseguimos manter um bom coleguismo. É um relacionamento interessante.

Pena que muitas pessoas entram e saem da minha vida e muitas amizades que estão terminando não conseguem se transformar em um bom coleguismo. Utilizo as palavras da Angélica para expressar algo que também penso: "Queria que você soubesse que não é porque eu me afastei de você que não deixo de torcer pelos seus sucessos. A vida faz isso... Eu me sentia desconfortável e, entre brigar com você e deixar as coisas tomarem seus próprios rumos, preferi o segundo."

Exatamente isso. A todos de quem me afastei, espero que sejam felizes em suas escolhas. Só não vou ser hipócrita de dizer que torço para aqueles que tentaram e os que ainda tentam me prejudicar de alguma forma. A estes, torço para que sumam da minha frente e procurem outro lugar no mundo.

Esse não foi o caso da Angélica, a quem me dirijo agora: o tempo passa e você continua sendo uma das pessoas mais surpreendentes que conheci. Só você mesmo escreveria isto. Em um tempo na minha vida, onde as novidades sou eu quem produzo e as surpresas já não existem, essa foi uma surpresa interessante.

Seja feliz na sua vida, também. Espero que quando nos esbarrarmos por aí, tenhamos a vontade de sorrir com a lembrança do que aconteceu na nossa adolescência. E seguem meus votos de Feliz 22, 23, 24 e 25 anos!