Um anjo de Mulher

Uma das coisas que preciso fazer antes de morrer, é escrever para a Tv. Escrevi 3 peças de teatro (onde também desenvolvo trabalho de produção, direção e... atuação). No rádio, já fui do "staff de apoio" de um programa da Rádio Band, aqui do Rio (falarei sobre isto em outro post). Em cinema, já me arrisquei atuando em um curta... Internet, bem, escrevo p/ internet. Mas Tv, ainda não fiz nada. Mas quero fazer!

No início de 2009, fui fazer um curso de roteiro com o Doc Comparato (falarei em breve também) e, no momento, curso o da Maria Carmem Barbosa. O curso do Doc era p/ cinema e Tv. O da Maria Carmem é produção de novelas e séries p/ Tv.

Vou colocar aqui algumas das cenas que escrevi para "Um anjo de mulher", novela que desenvolvemos no curso da Maria Carmem Barbosa. O primeiro capítulo foi escrito por 4 pessoas. A partir do segundo capítulo, a equipe passou a ser de 3.

Segue a primeira cena que escrevi, a cena 2 do capítulo 1. Nela, temos a apresentação do protagonista masculino, Rafael e de seu amigo e personagem-orelha, Santiago. Ambos com cerca de 20 anos. E Santiago, um argentino que fala português, mas sempre se confunde com os falsos cognatos:

CENA 02 – PRAIA – BALI – EXT./DIA

Sobe som. Música. Takes de Bali. Em outro ponto da praia, estão RAFA e SANTIAGO. Os dois estão descarregando um barco, com várias ostras. SANTIAGO é argentino e fala português com certa tranquilidade, mas às vezes escorrega em algumas palavras, que confunde com o espanhol. Ele está esgotado, enquanto RAFA esbanja disposição.

RAFAEL - Está cansado, Santiago?

SANTIAGO - No tengo essa tua disposición

RAFAEL (rindo) - Pô, cara, decide! Ou fala português ou fala espanhol.

Santiago fecha a expressão.

RAFAEL - Eu sei que você sabe falar português. (debocha) Mas cansado, é mais difícil. Bem mais. (pausa) Mas, fica calmo, cara! Está terminando. Com um pouco de sorte, teremos várias pérolas dentro destas ostras.

SANTIAGO - E se não tiver?

RAFAEL - Vai ser uma pena. Demora muito produzir uma pérola. Você sabe como elas são criadas?

SANTIAGO - Não faço a menor ideia.

RAFAEL - A ostra tem uma camada chamada manto. Quando alguma substância estranha à ostra entra nela, ela se defende lançando uma substância para se proteger do invasor. Aí o invasor fica preso dentro dessa substância. Resumindo, a pérola é essa substância com o invasor dentro.

SANTIAGO (estupefato) - Eu fico impressionado como você sabe das coisas...

RAFAEL - Você tem que saber de tudo, cara! Um pouco de tudo. Se tu curte onda e quer viajar o mundo todo, assim como eu, tem que viver de bico para se sustentar. Como você acha que eu convenci o dono desse barco a emprestar ele pra gente? Contei essa história das pérolas e ele se animou. Metade do que tiver aqui é nosso. (termina de descarregar em um isopor) Pronto, acabou!

SANTIAGO se atira na areia, exausto. RAFAEL se senta ao lado dele, suavemente.

SANTIAGO - Haces cuanto tiempo... (bufa... reinicia) Tem quanto tempo que você vive assim?

RAFAEL - Desde que fiz 18 anos. Falei para minha mãe que não queria saber de faculdade, escritório... Queria viver pelo mundo surfando. Aprendendo na marra. É isso que chamo de liberdade perfeita.

SANTIAGO - Eu busco a onda perfeita. Mas não sei quanto tempo mais vou aguentar essa vida. Para lá e para cá o tempo todo. Estoy farto!

RAFAEL - Isso você está dizendo agora. Ficamos pulando de cargueiro em cargueiro até chegar aqui, em Bali. E desde que chegamos, não paramos de trabalhar.

SANTIAGO – Nem me fale...

RAFAEL - Antes de eu te encontrar naquele cargueiro em Jacarta, você não imagina o que eu passei! (olhando o relógio) Depois eu conto! Mas agora, vamos logo, guardar essa caixa e...

SANTIAGO (cortando, animado) -... pegar um tubo!

RAFAEL - Que tubo, Santiago? Amanhã, a gente pega! Hoje vai ter aquela festona naquele hotel lá da ponta. Descolei um bico para a gente ajudar na arrumação.

SANTIAGO (lamentando, fazendo drama) - Ai esqueci disso...

RAFAEL (enfático) - Tem muita mulher bonita naquele hotel, Santiago! Nós vamos ajudar na arrumação, mas de olho para saber como vamos entrar lá mais tarde.

SANTIAGO - Bom. Bom. Bom.

RAFAEL (rindo)- Ninguém fala assim, Santiago. Fala: "Demorô!"

SANTIAGO - Demorô!

Os dois pegam a caixa, saem rindo, animados, em direção ao hotel.

CORTA PARA

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